terça-feira, julho 04, 2006

Elogio ao Amor


Elogio ao Amor
(Miguel Esteves Cardoso)

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

5 comentários:

Anónimo disse...

Hoje vou falar em inglês:

I believe people come into each other's life in one of the following ways:
- a reason
- a season
- a lifetime, or
- as a present
which one will you be I wonder?

Bjs para a margarida e para a malmequer

ass: Obélix

ENRESINADO disse...

O amor é movimento perpétuo a dois tempos: ilusão e desilusão.

© ENRESINADO

Anónimo disse...

Adoro-vos. Continuem a mostrar como se devem tratar as flores.
Hortênsia

Anónimo disse...

Rosas são a flor do coração, que quando dadas com carinho despertam o clic do amor e da emoção.São rosas são flores e tudo o que eu gosto de dar aos meus amores, espero que continuem a trabalhar este lindo blog, vou voltar mais vezes. Beijos doces para quem são umas flores. tchauuu. Fil - Alentejano

Anónimo disse...

O amor adquire nomes diferentes ao longo da nossa vida, mas na sua essencia, é sempre igual...
Pode ser o nosso primeiro amor, pode ser um amor platónico, um amor de liceu ou um amor de verão, pode até ser, um amor impossível...
O nosso primeiro amor é sempre inesquecível, pois é um furacão que invade a nossa intimidade, fazendo-nos corar sem sabermos porqué, provocando-nos arrepios não se sabe bem onde, e desejos ainda por perceber. O nosso primeiro amor é sempre único, pois todas essas sensações ainda estão por saciar e explicar...Não conseguimos contar à nossa melhor amiga aquilo que sentimos, pois ainda não foi vivido na sua plenitude, apenas sabemos que aquela pessoa nos faz sentir diferentes, quando estamos a pensar nela!
Caso tenhamos sido corajosas e persistentes, e tenhamos vivido esse primeiro amor, temos uma bela recordação para contar aos nossos filhos, mas caso não tenhamos tido essa sorte, resta-nos seguir em frente e procurar ou aguardar um novo amor.
Esse segundo amor, pode ser um amor de verão, quem sabe? Pode ser ardente e fogoso, entre as dunas de uma praia esquecida, ou premeditado e triste, na sombra da 1ª desilusão. Pode ser um amor por conveniência, para não se ficar sozinha, entre um grupo de amigos, num verão onde as hormonas estão à solta...
Depois vem o amor adulto, com a partida da adolescência. Esse amor onde se procura alguém que adivinhe as nossas vontades, que descubras os nossos segredos apenas com o olhar, até mesmo aqueles que nós próprias temos vergonha de pensar. Procuramos um amor sólido, onde a confiança seja a maior virtude, e onde a beleza física já nada tem de prioritário, pois nos momentos de trsiteza, onde as lágrimas criam uma névoa no nosso olhar, a beleza que nos faz falta é a do coração e não a do corpo.
Como mulher, sei que o amor é dificil, às vezes quase que indesejado, pois quem ama sofre, e sofrer nem sempre é fácil.
Mas pior é não sofrer por não saber o que é amar, calculo eu, sem o saber... pois julgo já ter tido a sorte de amar, pelo menos uma vez...

Ass: Brindo de princesa