segunda-feira, julho 24, 2006

FADAS

A mulher portuguesa não é só Fada do Lar, como Bruxa do Ar, Senhora do Mar e Menina Absolutamente Impossível de Domar. É melhor que o Homem Português, não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Trabalha mais, sabe mais, quer mais e pode mais. Faz tudo mais, à excepção de umas poucas actividades de discutível contribuição nacional (beber e comer mais, ir ao futebol, etc.), Portugal (i.e., os homens portugueses) pagam-lhe este serviço, pagando-lhes menos, ou até nada.
O pior defeito do Homem Português é achar-se melhor e mais capaz que a Mulher. A maior qualidade da Mulher Portuguesa é não ligar nada a essas crassas generalizações, sabendo perfeitamente que não é verdade. E eis a primeira grande diferença: o Português liga muito a dicotomia Homem/Mulher; a Portuguesa não. O Português diz “O Homem isto, enquanto a Mulher aquilo”. A Portuguesa diz “Depende”. A única distinsão que faz a Mulher Portuguesa é dizer, regra geral, que gosta mais dos homens do que das mulheres. E, como gostos não se discutem, é essa a única generalização indiscutível.
A Mulher Portuguesa é o oposto do que o Homem Português pensa. Também nesta frase se confirma a ideia de que o Homem pensa e a Mulher é, o Homem acha e a Mulher julga, o Homem racionaliza e a Mulher raciocina. E mais: mesmo esta distinção básica é aqui feita porque este artigo não foi escrito por uma Mulher.
Porque é que aquilo que o Homem pensa que a Mulher é, é o oposto do que a Mulher é, se cada Homem conhece de perto pelo menos uma Mulher? Porque o Português, para mal dele, julga sempre a Mulher “dele” é diferente de todas as outras mulheres (um pouco como também acha, e faz gala disso, que ele é igual a todos os outros homens). A Mulher dele é selvagem, mas as outras são mansas. A Mulher dele é fogo, ciúme, argúcia, domínio, cuidado. As outras são todas mais tépidas, parvas, galinhas, boazinhas, compreensíveis.
Ora a Mulher Portuguesa é tudo menos “compreensica”. Ou por outra: compreende, compreende perfeitamente, mas não aceita. Se perdoa, é porque começa a menosprezar, a perder as ilusões, e a paciência. Para ela a reacção mais violenta, não é a raiva nem o ódio – é a indiferença. Se não se vinga, não é por ser “boazinha” – é porque acha que não vale a pena.
A Mulher Portuguesa, sobretudo, atura o Homem. E o Homem, casca grossa, não compreende o vexame enorme que é ser aturado, juntamente com as crianças, o clima, e os animais domésticos. Aturar alguém é o mesmo que dizer “Coitadinho, ele não passa disto...”. No fundo, não é mais do que um acto de compaixão. A Mulher portuguesa tem um bocado de pena dos Homens. E nisto, convenhamos, tem um bocado de razão.
O que safa o Homem, para além da pena, é a Mulher achar-lhe uma certa graça. A Mulher não pensa que este achar-graça, é uma expressão superior da sua sensibilidade – pelo contrário, diverte-se com a ideia de ser oriundo de uma baixeza instintiva e pré-civilizacional, mas engraçada. Considera que aquilo que a leva a gostar do Homem é uma fraqueza, um fenómeno puramente neuro-vegetativo ou para-simpático – enfim, pulsões alegres ou tristemente irresistíveis, sem qualquer valor.
E chegamos a outra característica importante. É que a Mulher Portuguesa, se pudesse cingir-se ao domínio da sua intelegência e mais pura vontade, nunca se meteria com Homem nenhum. Para quê? Se já sabe o que o Homem é? Aliás a Mulher Portuguesa, não fossem certas questões desprezíveis da natureza, passa muito bem sem os homens. No fundo, encara-os como o fumador inveterado encara os cigarros: “Eu não devia, mas...”. E, como assim é, e não há nada a fazer, fuma-os alegremente, com a atitude sã e filosófica do “Que se lixe”.
Os homens, em contrapartida, não podiam ser mais dependentes. Esta dependência, este ar desastrado e carente que nos está na cara, também vai fomentando alguma compaixão das mulheres. A Mulher Portuguesa também atura o Homem porque acha que “ele sozinho, coitado, não se governava”. O ditado “Quem manda na casa é ela, quem manda nela sou eu” é uma expressão de vacuidade do machismo português. A Mulher governa realmente o que é preciso governar, enquanto o Homem, por abstracção ou inutilidade, se contenta com a aparência idiota de mandar “nela”. Mas ninguém manda nela. Quanto muito, ela deixa que ele retenha a impressão de mandar. Porque ele, coitado, liga muito a essas coisas. Porque ele vive atormentado pelo terror que seria os amigos verificarem que ele, na realidade, não só na rua como em casa, não “manda” absolutamente nada. “Mandar” é como “enviar” – é preciso ter algo para mandar e algo ao qual mandar. Esses algos são as mulheres que fazem. O Homem é apenas alguém armado em carteiro. É o carteiro que esta convencido que escreveu as cartas todas que diariamente entrega. A Mulher é a remetente e destinatária que lhe alimenta essa ilusão, porque também não lhe faz diferença absolutamente nenhuma. Abre a porta de casa e diz “Muito obrigada”. É quase uma questão de educação.
A imagem da “Mulher Portuguesa” que os homens portugueses fabricaram é apenas uma imagem da mulher com a qual eles realmente seriam capazes de se sentirem superiores. Uma galinha. Que dizer de um homem que é domador de galinhas, porque os outros animais lhe metem medo?
Na realidade, a Mulher Portuguesa é uma leoa que, por força das cirunstâncias, sabe imitar a voz das galinhas, porque o rugir dela mete medo ao parceiro. Quando perdem a paciência, ou se cansam, cuidado. A Mulher Portuguesa zangada não é o “Agarrem se não eu mato-o” dos homens; agarra mesmo, e mata mesmo. Se a Padeira de Aljubarrota fosse padeiro, é provável que se pusesse antes a envenenar os pães e ir servi-los aos castelhanos, em vez de sair porta fora com a pá na mão.


Crónica transcrita do Livro “A CAUSA DAS COISAS”
Miguel Esteves Cardoso, pág. 98-100, 11ª edição (Maio de 1991)

domingo, julho 09, 2006

quarta-feira, julho 05, 2006

terça-feira, julho 04, 2006

Elogio ao Amor


Elogio ao Amor
(Miguel Esteves Cardoso)

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

segunda-feira, julho 03, 2006

As nossas flores!

Margaridas:
De origem asiática e europeia, as Margaridas são flores campestres que crescem próximas ao solo, medindo até 60 cm de altura. Gostam de sol com clima ameno ou frio e florescem no Outono e no Verão. As Margarida são as flores mais utilizadas na brincadeira do "bem me quer, mal me quer", brincadeira essa que teria sido criada na Idade Média. A última pétala é a que vai indicar se a resposta é sim ou não. Em inglês, as flores Margaridas são conhecidas como daisy, de day´s eye que significa olho do dia, uma alusão ao movimento que elas fazem ao se abrirem e fecharem com o sol. As Margaridas, com suas cores e seu perfume, abrilhantam os jardins com a sua volumosa folhagem cheia de flores. São originária das zonas moderadas do hemisfério do norte, onde predominam com a sua beleza na ornamentação dos jardins. Florescem geralmente durante uma longa estação, que vai desde a Primavera até ao início do Inverno. Para favorecer a floração contínua das Margaridas, é sugerido que se retirem as flores secas regulamente. A Margarida representa inocência, pureza, lealdade, simplicidade, confiança, virgindade e criatividade na hora da dúvida.

Malmequer:
Também identificada como calêndula, é conhecida como Malmequer, pois, assim como a Margarida, é muito usada na brincadeira do "bem me quer, mal me quer".
É uma herbácea originária das Ilhas Canárias e região Mediterrânea, com 40 a 60 cm de altura, que possui flores pequenas e muito duráveis. Sua coloração gira em torno de tons amarelos e alaranjados. Floresce anualmente e é cultivada para flores de corte, em jardins ou em canteiros, com terra bem preparada e incorporada a um bom material orgânico. Suas delicadas flores são pequenas, reunidas em ramos, simples ou dobrados, bastante duradouras, com várias tonalidades. Multiplicam-se por sementes que devem ser semeadas no Outono para florescerem no Inverno e Primavera, quando será reconhecida como a maravilha do jardim. Representa a juventude, a sensibilidade, e atrai os amores adolescentes. Quando utilizada para presentear pode também significar uma questão: “Mal me quer ou bem me quer?”

domingo, julho 02, 2006

Porquê?


Com 21 anos vim para Lisboa, separei-me dos meus pais e dos meus manos, da minha familia e amigos...
Tenho tantas saudades do Norte.
As pessoas perguntam-me porque é que eu não volto para lá...
Não sei responder!
Eu sinto-me bem é lá, com os meus pais, os meus manos, os tios, os primos, os amigos... os lanches e os jantares lá em casa e no Areeiro...
Sempre em festa...
O Maroto, o Zé e as Pitas que saudades tenho eu do campo.
E os jogos de futebol que vimos lá em casa. Uns a torcer pelo Benfica(a maioria) outros pelo Porto e outros pelo Sporting(a minoria). Deixá-la primo acho que o Zé para desgosto da familia Alves é do teu clube... nunca mais aprende a dizer Benfica!
Porque é que fui para enfermeira?
Eu dava era uma grande agricultora...
Estão a rir-se?
É verade, eu gosto é do campo!...
O que é que me prende a Capital?......